IVES GANDRA DA SILVA MARTINS*
A esmagadora maioria do país crê em
Deus. Se manifestações contrárias ao ateísmo forem vetadas, como querem alguns,
será uma ditadura da minoria
Concordo com todos seus argumentos. Lembro que o referido procurador deveria também sugerir aos constituintes derivados, que são todos os parlamentares brasileiros (513 deputados e 81 senadores), que retirassem do preâmbulo da Constituição a expressão "nós, os representantes do povo brasileiro, sob a proteção de Deus, promulgamos esta Constituição".
Creio, todavia, que por ser preâmbulo da lei suprema, é imodificável. Terá o probo representante do parquet de suportar a referência ao Senhor.
Aliás, é bom lembrar que, sob a proteção de Deus, a Constituição promulgada permitiu que, pelos artigos 127 a 132, tivesse o Ministério Público as relevantes funções que recebeu e que ensejaram ao digno procurador ingressar com a ação anticlerical.
Tem-se confundido Estado laico com Estado ateu. Estado laico é aquele em que as instituições religiosas e políticas estão separadas, mas não é um Estado em que só quem não tem religião tem o direito de se manifestar. Não é um Estado em que qualquer manifestação religiosa deva ser combatida, para não ferir suscetibilidades de quem não acredita em Deus.
Há algum tempo, a Folha publicou pesquisa mostrando que a esmagadora maioria da população brasileira, mesmo daquela que não tem religião, diz acreditar em Deus, sendo muito pequeno o número dos que negam sua existência.
Na concepção dos que entendem que num Estado laico, sinônimo para eles de Estado ateu, só os que não acreditam no criador é que podem definir as regras de convivência, proibindo qualquer manifestação contrária ao seu ateísmo ou agnosticismo. Isso seria uma autêntica ditadura da minoria contra a vontade da esmagadora maioria da população.
Deveria, inclusive, por coerência, o procurador mencionado pedir a supressão de todos os feriados religiosos, a partir do maior deles, o Natal. Deveria pedir a mudança de todos os nomes de cidades que têm santos como patronos e destruir todos os símbolos que lembrassem qualquer invocação religiosa, como uma das sete maravilhas do mundo moderno, o Cristo Redentor, para não criar constrangimentos à minoria que não acredita em Deus.
O que me preocupa nesta onda do "politicamente correto" é a revisão que se pretende fazer de todo o passado de nossa civilização, desde livros de Monteiro Lobato às epístolas de São Paulo -não ficando imunes filósofos como Aristóteles, Platão ou Sócrates, que elogiavam uma democracia elitista servida por escravos.
Talvez o presidente Sarney tenha resumido com propriedade a ação do eminente membro do parquet ao dizer que, com tantos problemas que deve a instituição enfrentar, deveria ter mais o que fazer.
A moeda padrão do mundo, que é o dólar, tem como inscrição "In God We Trust". A diferença é que os americanos confiam em Deus e na sua moeda -nós "louvamos a Deus" na esperança de que também possamos confiar na nossa.
Interpretação de texto
1- Por se tratar
de artigo de opinião, o texto configura-se em primeira pessoa. Durante a
progressão textual, o autor muda de voz? Se mudou, por qual motivo o fez?
2-
O autor do artigo de opinião posiciona-se diante da
imposição de um membro do Ministério Público para que se retirasse das cédulas
do real a expressão “Deus seja louvado”. Quais os argumentos que fundamentam o
posicionamento do autor do texto? Ele concorda com a retirada da expressão?
3-
Qual a conjunção cabível no 2° parágrafo, depois do
primeiro ponto?
4-
O autor diferencia Estado laico de Estado Ateu. Quem estaria
confundindo essas duas modalidade de Estado, segundo o texto, seriam aqueles que acreditam que o Estado não
deve expressar nenhuma crença religiosa. Isso é possível?
5-
A crença em Deus sempre foi difundida. Prova disso é que
em Sócrates e em Platão, encontra-se referência a um ser superior. Um Estado é
ateu quando a maioria de sua sociedade nega a existência de Deus, o que não
ocorre com o Brasil. Sendo o país religioso, no que se refere a uma maioria que
acredita em Deus, pode-se dizer que vivemos em um Estado laico?
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