A
escrita na escola: concepções de língua, sujeito e texto adotados.
O ensino de leitura e
produção de textos na escola, bem como o de língua portuguesa, varia de acordo
com as definições de língua, sujeito e texto que se adotam. No geral, a escola
tem centrado seu ensino baseada numa concepção de língua estruturalista, em que
a gramática normativa assume o centro das atividades realizadas em sala de
aula.
Marcushi (2008) afirma
que a escola adota um ensino de língua descontextualizado na medida em que o
texto é concebido como um artefato linguístico acabado. Esse mesmo autor
defende que o ensino deve tomar a língua como o próprio lugar de interação
entre os interlocutores e texto como evento comunicativo.
Ao entender esse
posicionamento como o atual da Linguística Textual, o autor faz uma
retrospectiva das noções de sujeito de acordo com as principais teorias hoje
existentes no campo da Linguística. São três as noções verificadas: 1) Sujeito
consciente e dono do seu projeto de dizer, bem como língua como objeto autônomo
(visão estruturalista); 2) Sujeito determinado por ideologias, portanto
assujeitado e determinado pelo inconsciente (perspectiva da Análise do
Discurso) 3) sujeito interacional, participante da produção de sentido (noção
defendida pela Linguística Textual).
Para um ensino de
leitura e produção textual contextualizado, a posição adotada pelo professor
deve ser a de sujeito interacional (3), pois as práticas comunicativas efetivas
nos gêneros textuais não se resumem ao conhecimento do código (1) e nem apenas
na determinação do inconsciente (2). Elas são negociadas entre produtor, leitor
e o próprio texto. Nesse sentido, a compreensão é dada por um tripé de
participantes e os critérios de textualidade, conforme aponta Koch (2003),
ajudam a entender o texto como evento comunicativo onde convergem ações
linguísticas, cognitivas e sociais.
Ao trabalhar com o
texto numa perspectiva cognitiva e sociointeracional, torna-se necessário a
inclusão dos gêneros textuais como sendo “forma relativamente estáveis de
enunciados historicamente situados” (KOCH 2012, p. 68)). Isso significa dizer que os
gêneros permitem que o aluno atue sobre as práticas comunicativas e entenda que
o eles, embora apresentem aspectos formais, abrem espaço para a criatividade. E
o que vai garantir a efetividade dessas práticas é o propósito dos gêneros
textuais escolhidos. Os gêneros subjazem às práticas sociais e são por elas
determinados.
Assim como a visão de
texto adotada por esses autores, em que aquilo que mais importa é a
funcionalidade da língua (seu uso real, e não a forma), o ensino de língua
portuguesa e de leitura e produção de textos deve fornecer subsídios (nesse
caso, os gêneros textuais são uma importante ferramenta) para que o estudante
domine o uso da língua nas diversas práticas comunicativas e produzam textos
com propósitos. Os processos inferências têm um papel fundamental na
compreensão de textos, pois, como aponta Marcuschi (2008), é apenas uma parte
do sentido do texto que está em sua superfície. A compreensão correta se dá
pela ativação, por parte do leitor, de uma série de conhecimentos que o
produtor pressupôs como compartilhados. Somente levando em consideração os
conhecimentos teóricos mais atuais é que o ensino será contextualizado,
especialmente àqueles conhecimentos voltados ao estudo científico do texto.
REFERÊNCIAS:
KOCH,
Ingedore; ELIAS, Vanda. Ler e escrever:
estratégias de produção textual. São Paulo. Contexto, 2012.
KOCH,
Ingedore. Desvendando os Segredos do
Texto. São Paulo. 2. Ed. Cortez, 2003
MARCUSCHI,
Luiz Antonio. Produção textual, análise
de gêneros e compreensão. São Paulo. Parábola, 2008.
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