quarta-feira, 7 de agosto de 2013


A escrita na escola: concepções de língua, sujeito e texto adotados.



O ensino de leitura e produção de textos na escola, bem como o de língua portuguesa, varia de acordo com as definições de língua, sujeito e texto que se adotam. No geral, a escola tem centrado seu ensino baseada numa concepção de língua estruturalista, em que a gramática normativa assume o centro das atividades realizadas em sala de aula.
Marcushi (2008) afirma que a escola adota um ensino de língua descontextualizado na medida em que o texto é concebido como um artefato linguístico acabado. Esse mesmo autor defende que o ensino deve tomar a língua como o próprio lugar de interação entre os interlocutores e texto como evento comunicativo.
Ao entender esse posicionamento como o atual da Linguística Textual, o autor faz uma retrospectiva das noções de sujeito de acordo com as principais teorias hoje existentes no campo da Linguística. São três as noções verificadas: 1) Sujeito consciente e dono do seu projeto de dizer, bem como língua como objeto autônomo (visão estruturalista); 2) Sujeito determinado por ideologias, portanto assujeitado e determinado pelo inconsciente (perspectiva da Análise do Discurso) 3) sujeito interacional, participante da produção de sentido (noção defendida pela Linguística Textual).
Para um ensino de leitura e produção textual contextualizado, a posição adotada pelo professor deve ser a de sujeito interacional (3), pois as práticas comunicativas efetivas nos gêneros textuais não se resumem ao conhecimento do código (1) e nem apenas na determinação do inconsciente (2). Elas são negociadas entre produtor, leitor e o próprio texto. Nesse sentido, a compreensão é dada por um tripé de participantes e os critérios de textualidade, conforme aponta Koch (2003), ajudam a entender o texto como evento comunicativo onde convergem ações linguísticas, cognitivas e sociais.
Ao trabalhar com o texto numa perspectiva cognitiva e sociointeracional, torna-se necessário a inclusão dos gêneros textuais como sendo “forma relativamente estáveis de enunciados historicamente situados” (KOCH 2012, p. 68)). Isso significa dizer que os gêneros permitem que o aluno atue sobre as práticas comunicativas e entenda que o eles, embora apresentem aspectos formais, abrem espaço para a criatividade. E o que vai garantir a efetividade dessas práticas é o propósito dos gêneros textuais escolhidos. Os gêneros subjazem às práticas sociais e são por elas determinados.
Assim como a visão de texto adotada por esses autores, em que aquilo que mais importa é a funcionalidade da língua (seu uso real, e não a forma), o ensino de língua portuguesa e de leitura e produção de textos deve fornecer subsídios (nesse caso, os gêneros textuais são uma importante ferramenta) para que o estudante domine o uso da língua nas diversas práticas comunicativas e produzam textos com propósitos. Os processos inferências têm um papel fundamental na compreensão de textos, pois, como aponta Marcuschi (2008), é apenas uma parte do sentido do texto que está em sua superfície. A compreensão correta se dá pela ativação, por parte do leitor, de uma série de conhecimentos que o produtor pressupôs como compartilhados. Somente levando em consideração os conhecimentos teóricos mais atuais é que o ensino será contextualizado, especialmente àqueles conhecimentos voltados ao estudo científico do texto.





REFERÊNCIAS:

KOCH, Ingedore; ELIAS, Vanda. Ler e escrever: estratégias de produção textual. São Paulo. Contexto, 2012.
KOCH, Ingedore. Desvendando os Segredos do Texto. São Paulo. 2. Ed. Cortez, 2003

MARCUSCHI, Luiz Antonio. Produção textual, análise de gêneros e compreensão. São Paulo. Parábola, 2008.






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